O que são as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs): Um Breve Resumo sobre o Desenvolvimento da Tecnologia
- Dai Landim
- 28 de jan.
- 7 min de leitura
Atualizado: 1 de fev.
A minha proposta para a obra poética Sobre(viver) Atravessando Versos: Nascer, Comprar e Morrer é discutir com os meus os riscos que estamos correndo, tanto em relação à nossa saúde mental quanto a questões ambientais. Para falarmos sobre o uso consciente das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), ou seja, nossos celulares, redes sociais e afins, é importante termos uma visão mais abrangente sobre o que é, de fato, a Tecnologia e como chegamos onde estamos hoje. Em algum nível, é necessário considerar os processos de integração das tecnologias em nossas vidas, bem como sua potencialização com a popularização da internet.
A tecnologia, em sua própria etimologia, se apresenta como algo que potencialmente modifica a realidade; que aproveita o saber em sua ação (do grego "τέχνη": "técnica, arte, ofício" e "-λογία" "estudo") é o “estudo da própria atividade do modificar, do transformar, do agir" (Okido, 2021).
João Victor Nogueira Okido, em seu estudo/livro “História da tecnologia no desenvolvimento humano”, mostra, em uma cuidadosa linha temporal, a evolução tecnológica da humanidade; o surgimento dos primeiros utensílios que modificaram e facilitaram a vida humana, ou seja, as primeiras tecnologias, que remontam à Idade da Pedra Lascada, ou período paleolítico, onde identificamos a adequação das pedras como utensílios para retirar o tutano, substância que tem dentro dos ossos de animais, para alimentação. A partir de então, a manipulação de pedras para facilitar a vida humana na terra foi aumentando e, consequentemente, se desenvolvendo até chegar à Era da Pedra Polida, ou o período neolítico, criando-se enxadas, lâminas, entre outras ferramentas.
Outra tecnologia antiga e de grande impacto na ascensão do homem enquanto espécie dominante foi a descoberta e a domesticação do fogo. “O homem, ao domesticar o fogo, ganha uma força elementar, obediente e potencialmente ilimitada” (OKIDO, 2021).
Com todas essas transformações, o homem começa a se estabelecer enquanto sedentário, desenvolve a agricultura e aprimora cada vez mais suas tecnologias, forjando metais e gradualmente evoluindo suas ferramentas e demais utensílios.
A partir de então, muitos outros processos relevantes de desenvolvimentos tecnológicos possibilitaram o início das civilizações, como a Era da Argila, a Idade dos Metais, a Revolução Científica, entre tantos outros (OKIDO, 2021).
Já na era moderna, as tecnologias ganham outras expressões com o processo de Revolução Industrial, iniciado na Inglaterra no século XVIII, que transformou por completo as relações de trabalho:
Foi na Grã-Bretanha que ocorreu a mais importante das invenções, máquinas capazes de produzir mais que o trabalho manual. Tendo início com as máquinas de fiar e tecelagem. Já no século XIX, para facilitar o transporte dos produtos, foram construídas as estradas de ferro, o que, além de facilitar o transporte, reduzia o custo dos produtos (CARVALHO 1, CARVALHO 2; 2022).
No livro “A história da riqueza do homem”, Huberman afirma que a invenção da “máquina movida a vapor foi o nascimento do sistema fabril em grande escala”. E tudo isso não transforma somente as relações de trabalho, como supracitado, mas também as relações sociais. E assim seguimos por tantas outras revoluções industriais e tecnológicas. Até chegarmos a um ponto em que passamos a naturalizar a tecnologia, bem como seu poder transformador de uma sociedade moderna.
“Há inúmeros exemplos dessa experiência direta de quase naturalização da tecnologia e de seu poder em meio à construção da modernidade, tais como o uso de computadores como artefato capaz de alterar a vida cotidiana, a presença da televisão na vida privada, a existência de aviões a jato, da energia nuclear, de antibióticos, da pílula contraceptiva e o sucesso de transplantes” (CARVALHO 1, CARVALHO 2; 2022).
Já "O termo Tecnologia da Informação (TI) serve para designar o conjunto de recursos tecnológicos e computacionais para a geração e uso da informação” (OKIDO, 2021).
Para Castells, diversos fatores serviram de base para o crescimento/desenvolvimento vertiginoso das TIs. O primeiro é a macromudança da microengenharia: eletrônica e informação.
“(...) durante a Segunda Guerra Mundial e no período seguinte que se deram as principais descobertas tecnológicas em eletrônica: o primeiro computador programável e o transistor, fonte da microeletrônica, o verdadeiro cerne da revolução da tecnologia da informação no século XX. Porém, defendo que, de fato, só na década de 1970 as novas tecnologias da informação se difundiram amplamente, acelerando seu desenvolvimento sinérgico e convergindo em um novo paradigma.”
O segundo é a criação e o desenvolvimento da Internet, atribuídos à Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA) do Departamento de Defesa Norte-americano (DOD), com o objetivo de criar um sistema que viabilizasse uma comunicação segura dos ataques nucleares utilizando a tecnologia de troca de pacotes. Que futuramente “a tecnologia digital permitiu o empacotamento de todos os tipos de mensagens, inclusive de sons, imagens e dados” (CASTELLS, 1999). Assim, a linguagem digital começa a garantir uma comunicação global e horizontalizada. A ARPANET, a primeira rede de computadores da história, deixou de existir nos anos 80, dando lugar à conhecida Internet.
O outro ponto que Castells apresenta refere-se à tecnologia das redes e à difusão da computação, que, segundo o mesmo, utilizou o poder da internet juntamente com o progresso das telecomunicações e computação para potencializar a capacidade de transmissão.
“(...) os usuários já tinham acesso à rede com uma série de aparelhos especializados, de finalidade única, distribuídos em todos os setores da vida e das atividades em casa, no trabalho, em centros de compras e de entretenimento, em veículos de transporte público e, por fim, em qualquer lugar. Esses dispositivos, muitos deles portáteis, comunicam-se entre si, sem necessidade de sistema operacional próprio. Assim, o poder de processamento, os aplicativos e os dados ficam armazenados nos servidores da rede, com a inteligência da computação ficando na própria rede: os sítios da web se comunicam entre si e têm à disposição o software necessário para conectar qualquer aparelho a uma rede universal de computadores.”
O referido autor também apresenta o divisor tecnológico dos anos 70 com muitas inovações, como o desenvolvimento do microprocessador, que difundiu a microeletrônica e também o microcomputador, tendo sido lançado pela Apple com produto comercial em 1977, fazendo desta década de 70 o ano em que a Revolução da tecnologia da informação nasceu; juntamente com as descobertas oriundas da engenharia genética.
As tecnologias da vida, que, por sinal, é outro ponto relevante para Castells em suas análises acerca de todas as transformações das TICs, que na década de 70 começaram a trabalhar as combinações genéticas e recombinação de DNA. Tal tecnologia ganhou força nos anos 90 com a revitalização da biotecnologia.
Por fim, Castells apresenta como elemento importante da evolução das TIs enquanto força econômica e social da era da informação o contexto social e a dinâmica da transformação tecnológica que, consequentemente, muda as dinâmicas sociais. Além disso, ao caminhar dos anos, cada vez mais pessoas foram tendo acesso às tecnologias informacionais, devido ao barateamento dos insumos relacionados à informática e, consequentemente, “o acesso à informação se tornou algo mais democratizado e com custos muito mais baixos do que outras ferramentas já conhecidas, como, por exemplo, transportar uma enciclopédia de um lugar a outro” (PEIXOTO, OLIVEIRA, 2021).
Além disso, a internet foi potencializada nos anos 2000, tornando possível que os usuários interagissem entre si e com os conteúdos que consumiam e produziam, surgindo, segundo Castells, as mídias digitais, que nos inserem em um novo paradigma social e, assim, em uma Sociedade em Redes que nos molda a vida e é moldada por ela. (PEIXOTO, OLIVEIRA, 2021)
Essas mudanças no contexto social que as tecnologias vêm trazendo podem ser notadas na nossa contemporaneidade, principalmente depois do advento da pandemia, que levou os estados nacionais a adotarem medidas de isolamento social para evitar contágio com o vírus. Com isso, atividades como trabalho e, principalmente, educação foram feitas a distância trazendo as TICs integralmente para nossa rotina.
TIC e sociedade
Se percebe que existe uma concorrência acirrada da grande quantidade e variedade de serviços digitais, como sites, redes sociais e aplicativos, todos querendo nossa atenção. Diante dessa grande concorrência, os desenvolvedores desses serviços estão fazendo de tudo para seduzir o usuário e não só capturar a sua atenção, mas também ter o domínio dela, pois quanto mais se utiliza um serviço on-line, mais propagandas e anúncios o usuário pode visualizar, e assim, mais propenso a consumir ele se torna. O marketing e a publicidade têm um longo histórico de uso de teorias psicológicas para persuadir e manipular o comportamento do consumidor. A partir da década de 1950, as grandes marcas e empresas investiram em estudos e apropriaram-se de conceitos psicanalíticos que usavam em mensagens subliminares e sugestionamentos para criar objetos de desejo e conseguir o domínio das massas (Cavaco, 2010). Com as mídias digitais e todas as possibilidades de interatividade que elas oferecem, o perigo é maior ainda, pois o foco agora não é apenas em estimular o subconsciente e o inconsciente, e sim, adestrar o usuário para que ele se comporte da maneira que os desenvolvedores desejam, assim como cientistas faziam com ratos de laboratório, anteriormente” (RABELO, SILVA, 2021).

as TICs são um reflexo de nossa evolução tecnológica e social, e ao mesmo tempo, uma força que redefine as relações humanas, tanto no âmbito individual quanto coletivo. O desafio é saber como aproveitar seu potencial para o bem-estar coletivo, sem perder de vista os riscos que elas podem representar. A sociedade em rede já é uma realidade, e cabe a cada um de nós entender seu impacto e buscar caminhos para um futuro mais equilibrado e justo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRTÁFICAS
CASTELLS, Manuel.A sociedade em rede. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CARVALHO, Sérgio; CARVALHO, Fernanda.Revolução Industrial e suas consequências: da Inglaterra ao mundo. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2022.
OKIDO, João Victor Nogueira.História da tecnologia no desenvolvimento humano. São Paulo: Editora do Autor, 2021.
PEIXOTO, Marina; OLIVEIRA, Marcos.A era digital e o acesso à informação. São Paulo: Editora Digital, 2021.
RABELO, Adriana; SILVA, Renato.Manipulação e comportamento na era digital: desafios da publicidade e do marketing. Rio de Janeiro: Editora Acadêmica, 2021.
HUBERMAN, Michael.A história da riqueza do homem. São Paulo: Editora Fundamento, 2022.
CAVACO, Ricardo.Publicidade e psicologia: uma análise do comportamento do consumidor no século XXI. São Paulo: Editora Psicanálise, 2010.



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